O escritor que popularizou a ciência. Por que os livros de A. R. Beliáev não são publicados?
Tradução do russo por Robson Ortlibas
Artigo para o “Jornal Literário”, escrito por Vladímir Kremniov
Entre os soviéticos, divulgadores da ciência, A. R. Beliáev (Aleksandr Beliáev) ocupa um lugar de destaque. Seus romances de ficção científica, novelas e contos, repletos de muitos fatos científicos interessantes, são certamente um estímulo ao conhecimento. Eles desenvolvem em nossos jovens o desejo em relação à ciência, ao conhecimento da natureza – isso é evidenciado pelas inúmeras cartas de seus leitores, que contêm avaliações positivas das suas obras. Beliáev produziu uma série de romances sobre temas biológicos, dos quais nomeamos: “O dono do mundo”, “A cabeça do professor Dowell”, “O homem anfíbio”, “A cabeça morta”, entre outros.
Neles, em uma boa exposição literária, levanta problemas de grande significância. Outra área da qual Beliáev escreve com sucesso é a astronomia. De sua caneta, saíram os romances: “A estrela KETs”, “Salto para o nada”, a novela “Hóspede celestial”, nos quais ele, de uma forma artística, expõe um conhecimento moderno sobre o Universo. Nestes romances, Beliáev populariza a grande ideia de K. E. Tsiolkovski sobre a conquista do cosmos por meio de viagens interplanetárias.
Beliáev baseia suas obras em material científico, após primeiro estudá-lo de maneira séria. Seu círculo de leitores é muito amplo. Os jovens, os trabalhadores e cientistas leem e estudam suas obras com prazer. Isso não é por acaso, uma vez que as vantagens dos romances de Beliáev são o fascínio da apresentação e o material factual interessante.
Os cientistas já destacaram nas páginas da imprensa o papel de A. R. Beliáev como um talentoso popularizador da ciência. Por meio desta, gostaríamos de lembrar que todas as obras de Beliáev há muito tempo sumiram e passaram a ser uma raridade bibliográfica no mercado de livros. Seria necessário satisfazer os pedidos dos leitores e republicar ao menos alguns de seus romances. Seria muito desejável também ver as principais obras de Beliáev nas telas dos cinemas, o que popularizaria ainda mais o conhecimento científico.
Assinado:
Doutor em Ciências Físicas e Matemáticas, professor B. WEINBERG e professor S. NATANSON.
Astrônomo do observatório de Pulkovo, M. EIGENSON.
Equipe de pesquisas: V. STEBLIN, N. TCHUGROV.
Leningrado.
No artigo “O escritor ficou sozinho[2]”, impresso no “Jornal Literário” do dia 10 de fevereiro, contamos sobre a vergonhosa indiferença do Sindicato dos Escritores e das editoras frente ao destino e obra de A. R. Beliáev. Eis que já se passaram três anos que a grave doença prendeu Beliáev à cama. E se esqueceram do escritor! O Sindicado dos Escritores, ao longo de todos estes anos, enviou intimações a Beliáev, insistindo que comparecesse às sessões e reuniões, mas ninguém da organização literária estava interessada em novas novelas e novos contos, escritos e ditados por Beliáev durante os anos de sua doença.
Os leitores, ao saberem da doença de Beliáev por meio do “Jornal Literário”, enviam cartas calorosas ao escritor, perguntam sobre o seu trabalho e até mesmo sugerem-lhe temas para novas obras de ficção científica. O Litfond de Leningrado aumentou de maneira significante a ajuda a Beliáev, que agora assegura ao escritor trabalhos científicos e subsídios necessários para sua criação.
É digno de surpresa que as editoras ainda não se interessam pela literatura de ficção científica.
Houve uma época em que a literatura de ficção científica era publicada pela “Jovem Guarda”. Após a reorganização, esta editora abandonou a ficção científica. Na Lengoslitizdat também informaram a Beliáev que lançar livros de ficção científica não estava entre suas tarefas, mas a antiga gestão do “Escritor Soviético” sequer falava sobre este assunto.
Apenas a Lendetizdat, alguns dias atrás, fechou um contrato com Beliáev para a publicação de um romance de ficção científica adaptado para crianças.
Mas os livros de Beliáev não são lidos apenas por crianças, mas por jovens e adultos. A comunidade literária deveria estar interessada em saber por que as editoras descartam burocraticamente os livros de Beliáev, recomendados por cientistas renomados.
V. K. (Vladímir Kremniov)
“Jornal Literário”, núm. 21, 1938
[1] Artigo publicado no dia 15 de abril de 1938, no número 21 do “Jornal Literário”, escrito por Vladímir Kremniov, contendo um manifesto de diversos cientistas a favor da obra de Aleksandr Beliáev.
[2] Artigo contido no livro “A cabeça do professor Dowell”, com tradução de Robson Ortlibas, editora Tacet Books, 2024.
Sobre o evento online
O lançamento online será no canal de YouTube da editora Tacet Books na quinta-feira (25/04) às 19h. Clique no vídeo acima e selecione a opção “Receber notificação” para ser avisado.
Saiba mais sobre esta obra
“O registro foi fechado, a cabeça se calou, mas continuava a mexer os lábios e olhar com uma expressão de horror e súplica.”
Título: A cabeça do professor Dowell
Sinopse: “Seu nome figura ao lado de gigantes como H. G. Wells e Jules Verne no panteão dos grandes escritores de ficção científica”
O gênero de ficção científica é um dos mais difíceis. Fazer deste ou daquele fato científico, situação cientifica, o personagem do livro, mais precisamente, o destino dos personagens, é uma dificuldade que poucos conseguiram superar. “A cabeça do Professor Dowell” é uma narrativa completa e fascinante, na qual todos os elementos são fundidos e difíceis de “dividir” de maneira crítica. Isso atesta sobre a cultura da escrita, sobre o talento incontestável do autor e, ao mesmo tempo, sobre as suas grandes capacidades no campo da ficção cientifica soviética.
Sobre o autor: Aleksandr Beliáev (Aleksandr Románovitch Beliáev) (1884–1942), é o precursor da ficção científica soviética. Seus trabalhos inspiraram gerações de novos escritores de ficção científica não apenas na Rússia, mas pelo mundo. Ao contrário de outros escritores, Beliáev não apenas se inspirava nos trabalhos científicos, mas influenciava cientistas a colocarem em prática as ideias contidas em suas obras. Beliáev foi um autor muito à frente do seu tempo, pavimentou o caminho tanto para os futuros autores do gênero, como para os futuros cientistas. Um menino que sonhava em ser Ícaro, mas deu asas à própria ciência.
Sobre o tradutor: Robson Ortlibas é tradutor de russo e inglês para o português, palestrante e russista. Traduziu diversas obras de autores russos como: Liev Tolstói, Fiódor Dostoiévski, Anton Tchékhov, Evguêni Zamiátin, Isaac Bábel, entre outros.
ISBN: 9786589575689
Preço: R$ 64,90
Editora: Tacet Books
Formato: Brochura
Número de páginas: 248 páginas
Categorias:
- Ficção / Ficção Científica / Geral
- Crítica Literária / Russa e Soviética
- Língua, Comunicação e Disciplinas Relacionadas / Tradução e Interpretação
- Ficção Juvenil / Ficção Científica / Geral







